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quarta-feira, 16 de maio de 2012

PRIMEIRA OFICINA DE FORMAÇÃO DA OLIMPIADA DE LINGUA PORTUGUESA


Olimpíada de Língua Portuguesa - Escrevendo o Futuro 
        


No dia 15 de maio de 2012, no auditório da administração do Riacho Fundo I, aconteceu encontro com os professores de língua portuguesa e regentes do 5° ano. Tivemos oportunidade de ouvir o relato da professora Jane, atualmente coordenadora do CEM-NB. Ela foi premiada com primeiro lugar no Distrito Federal na categoria Crônicas e o aluno ficou entre os 25 primeiros colocados na etapa nacional, na última edição das Olimpíadas da língua Portuguesa no ano de 2010.
Os participantes se envolveram com a atividade de reestrutura do poema O Buraco do Tatu, de Sergío Caparelli. Foi possível perceber a riqueza e inúmeras possibilidades pedagógicas.
Com o relato da professora Jane, pode-se  perceber que toda a proposta e material da Olimpíada, permite uma articulação com o currículo, de forma lúdica e com um foco nos Gêneros literários.
Os educadores se mostraram interessados. Todos foram convidados a se inscreverem para organizarmos uma formação e acompanhento.
Abaixo, reproduzimos o relato da professora Jane e a crônica do aluno premiado.

Professora Jane Carrijo
                                    
                                ESCREVENDO O PRESENTE
                                       (Relato da Prática)
        “...   e assim eu quereria a minha ultima crônica, que fosse pura como este sorriso.” Então, por segundos, houve um profundo silêncio na sala que rapidamente foi quebrado: “Que texto lindo, professora...”, “Achei muito triste...”, “Nossa, até me arrepiei...”. Diante de tantos comentários, percebi alguns olhos timidamente marejados e numa certa aluna, as lágrimas de fato caíram. Realmente, a audição da “Última crônica” de Fernando Sabino cumpriu o objetivo e a semente foi lançada rumo à Olimpíada de Língua Portuguesa.
         Naquele instante, me lembrei de que duas semanas antes me encontrara num dilema: como trabalhar crônicas com seis turmas que praticamente desconheciam o assunto? O que fazer para vê-los escrevendo? Como orientar tantos alunos sem deixar os conteúdos programáticos?
         Era a minha estreia no programa Escrevendo o Futuro e enquanto professora do 1º ano do Ensino Médio não tinha escolha: ou trabalharia crônicas com todas essas dificuldades ou não participaria da Olimpíada.
       Conversei com minhas turmas, falei do projeto, da importância de participarmos, incentivei-os a superar as dificuldades. Não sabia, porém, que após essa conversa todos resolveriam participar e que o meu trabalho seria dobrado.
         Já na oficina inicial, instiguei-os a ver a vida como cronistas. Perceberiam aquilo que ninguém viu, falariam das coisas de uma forma que ninguém falou. Sairiam às ruas em busca de um fato inusitado e único, rotineiro e quase imperceptível. Encontrariam a sua primeira crônica.             
         Esperei, ansiosamente, as novidades que trariam para a sala de aula. No quadro-negro, uma a uma, sobre cada cena descrita, anotei: o ipê florido da pracinha, a estação de trem abandonada, os mendigos dormindo na calçada, o silêncio de alguns bairros de Brasília, um cego tocando pandeiro no ônibus, entre outras. Houve também aqueles que esqueceram e outros que repetiram as cenas dos colegas. Solicitei a todos que guardassem consigo esses episódios. Faríamos outras oficinas e depois de amadurecidos e trabalhados bastariam passar a crônica para o papel.
        Enquanto o espírito de cronista instalava-se no imaginário dos alunos, analisávamos textos de escritores renomados, como: Carlos Heitor Cony, Mário Prata, Paulo Mendes Campos, Armando Nogueira. A intimidade com a crônica crescia a cada oficina.
         O apoio da coordenação da escola foi fundamental na organização do trabalho. A seleção dos jornais e revistas, a ambientalização da sala, todo o material de áudio, vídeo, fotográfico, foram fatores pré-determinantes na execução das atividades. O Caderno do Professor me orientava na sequência didática e propiciava a vivência de uma metodologia que até ali era desconhecida para mim. Esses incentivos foram fundamentais para eu não desistir no meio do caminho. 
         Transformar reportagens em crônicas foi uma tarefa árdua, porém muito proveitosa. Enquanto os grupos liam os textos criados a partir das notícias, percebi que já identificavam o gênero, provocavam reflexões, valiam-se do lirismo, do humor, já conseguiam fazer comparações e até metáforas poéticas. Alheios às manchetes envolvendo política e corrupção, que colocam Brasília sempre em evidência, naquele momento, os alunos elegeram uma personalidade do bairro como assunto de quase todas as produções. Tratava-se de Shaolin, um bêbado assassinado dias antes. As reflexões feitas em torno da vida e da morte daquele desconhecido permitiram o aprimoramento dos recursos linguísticos, a determinação do tom, a certeza de que a crônica nasce de episódios corriqueiros e às vezes banais.
         O tempo passava rápido e eu buscava associar as oficinas ao currículo. O clima quente e seco do início de agosto, no Distrito Federal, era quase insuportável! Não podíamos perder o ritmo. Durante algumas aulas, íamos para o pátio da escola e, em círculos, os grupos apresentavam os trabalhos. Os alunos estavam envolvidos e muitos já eram capazes de fazer bons textos.
         Quase na reta final, trabalhamos imagens produzidas pelos próprios alunos. Vimos através de fotografias o olhar de cada um sobre o lugar onde vivem. Cada foto apresentada serviu de ‘pré-avaliação’ de todo trabalho. Pude perceber a sensibilidade, o aprimoramento do imaginário, a situação fotografada, enfim, observei se havia desenvolvido naqueles estudantes o ‘olhar de cronista’.
         Era chegado o momento de retomarem aqueles episódios guardados na memória. Um bimestre havia passado e agora depois de tantas atividades de produção de textos, definiriam o tom, o elemento surpresa, escolheriam o desfecho, produziriam a crônica final.
        Nesta época, trabalhei bastante orientando tantos alunos. Revisava cada texto e aqueles que se enquadravam na categoria, não fugiam ao tema, apresentavam estilo, foram selecionados e reescritos. Na maioria das produções, aquele ‘olhar de cronista’ estava presente e as peculiaridades percebidas pelos alunos, aliados aos recursos e convenções da linguagem, transformaram as cenas descritas em textos carregados de reflexão, lirismo e humor.
         Aceitar o desafio de trabalhar com várias turmas me mostrou que nem      sempre os melhores resultados sairão daqueles alunos em evidência, pois um bom texto, na maioria dos casos, precisa ser despertado, direcionado e construído.
         Compreendi que ensinar crônicas a jovens é possível, já que o despretenciosismo exigido por esse gênero é rapidamente captado pelos alunos, que se divertem buscando pequenos acontecimentos para amarrá-los aos textos. Fazem da escrita um aprendizado agradável e ao transformarem, no dia-a-dia, ideias em literatura, estão na realidade ‘escrevendo o presente’.                                                    
                                            Profª: Jane dos Santos Carrijo – Brasília (DF)


Professora Jane e seu aluno premiado Pedro Kennedy

                                            Beleza Cega

                 (CRÔNICA PREMIADA ALUNO PEDRO)

         Fim de tarde. Saio da escola, satisfeito por mais um dia de aprendizado. Sigo em frente, passo por todas as avenidas, atravesso as pistas da BR-060 e me dirijo à parada para esperar o ônibus que me levará para casa.
           Passaram-se alguns minutos, avisto de longe o número da linha que irei pegar. Dou o sinal com a mão, o ônibus    para. Como de costume, está lotado. Entro, me acomodo entre os passageiros e o motorista segue viagem.
         Muita conversa toma conta do ambiente, porém, dentre todo esse alvoroço, notava-se um som, que era ao mesmo tempo, conhecido e estranho, pois naquele ônibus jamais tinha ouvido algo parecido. Procurei para tentar descobrir de onde vinha esse “barulho”. Olhei para um lado, olhei para o outro e nada. As pessoas estão tão aglomeradas que é impossível ver algo.
          O ônibus para. Descem dois passageiros. Mas ainda está muito cheio. Desisto de procurar. Abaixo a cabeça. Tento cochilar, mas continuo ouvindo todo aquele batuque, algo parecido com um pandeiro que soava no fundo do ônibus. Então imaginei: será alguma pessoa ensaiando, naquele espaço, uma apresentação? Será algum show em meio a todos aqueles rostos cansados? Ou será só alguém brincando com o tal instrumento? A dúvida prevalecia.
          Novamente o ônibus para. Cerca de quatro a cinco pessoas descem. A parte da frente do carro já não tinha muitos de  pé. Pago a passagem, passo a roleta com a ansiedade de saber quem era o artista que viajava conosco.
         Tento mais uma vez ver quem era, impossível!
         Pela terceira vez o ônibus para. Ponto movimentado, descem muitas pessoas. As que permanecem, disputam entre si os lugares vazios. O ônibus anda.
         Ouço várias vozes e palmas que acompanham atentamente a batucada. Parada à vista, sei que mais pessoas irão descer, me preparo para ir ao “fundão”.
         O ônibus para. As pessoas descem. Enfim, olho para frente e me deparo não só com um cego tocando um pandeiro, mas com uma pessoa que mesmo sem enxergar, passa toda a sua alegria ao instrumento. É hora de descer. Estampo um belo sorriso em meu rosto, admirando todo aquele talento, desço do ônibus com a certeza de que a beleza de Brasília está nas pessoas que dão vida à nossa cidade.    
                     
                                Aluno: Pedro Kennedy – 1º E CEM 01 NB       



                             

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