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domingo, 9 de setembro de 2012

CRÔNICA NOTURNA



Vinte e três horas e não consigo dormir.
Essa segunda-feira parecia ser o mais normal dos dias. Uma reunião pela manhã, uma tarde e outra a noite. Minha mesa abarrotada de papeis para analisar.
al do dia, antes da última reunião, ao passar pelo banheiro, o espelho refletiu: como passar outro dia de trabalho com um cabelo desse? Ninguém merece... O que eu preciso pra passar mais de treze horas trabalhando? Apenas umas boas horas de sono e um cabelo arrumado. Só isso. É só isso que eu preciso.
É inimaginável que um desejo tão simples possa ser tão difícil de ser realizado. A pessoa mora no CAUB I, longe de tudo; na manhã do dia seguinte tem que estar cedo na regional; meu amigo Leonardo (o cabeleireiro) foi visitar o pai e ainda não voltou. Sintetizo a situação para a Renatinha:
- Com esse cabelo nem saio de casa amanhã! Posso até pensar em pular de um pé de alface. É desesperador!
Renatinha sempre tem solução pra tudo. Rapidamente pega o telefone e solicita à sua amiga Socorro que me atenda ainda naquela hora, às 18h 30min.
Vou com aquela desconfiança. Não vai dar certo. Ninguém além do Leonardo consegue domar esse leão. O pixaim vai ficar mais seco do que nunca. Mas, que alternativa eu tinha?
Em meio aos procedimentos de lavagem, rápida hidratação, levanta daqui, senta ali, uma menina saltita pelo salão, de uniforme de uma Escola Classe do Núcleo Bandeirante. Ela auxilia as tias, com um inseparável livro nas mãos:
_ Esta estória é muito legal!
Eu demonstro interesse:
_ Qual o nome do livro?
Ele responde. Eu nem me lembro mais o título. Não me esqueço é da estória, não me esqueço é da menininha de uniforme. Ele senta em minha frente:
_ Vou ler uma parte pra você.
Filomena... era o nome da minha vó paterna, nem tive tempo de contar isso à menininha. Mas... Filomena era costureira, fazia vestidos de noivas.
_ Não. Vou começar a leitura do início pra você.
E a estória de Filomena foi se desenhando em minha frente por meio das palavras lidas por aquela menininha.
Que encanto! A costureira Filomena, seu vestidos, seu noivo que fugiu de moto e aquela menininha.
Socorro terminou a escova, passou a chapinha em todo o cabelo, mas, na aquela altura já não me preocupava mais se o pixaim estava ressecado. Só queria saber que final fora reservado à Filomena e de não decepcionar minha contadora de estórias.
As cabeleleiras pegam suas bolsas, o moço do caixa puxa a porta da loja, mas a menininha não se importava com o movimento, a vida de Filomena era muito mais importante.
Só quando o drama de Filomena se resolveu é que paguei a conta da escovinha, 25 reais. Agradeci a menininha pela estória, agradeci a Socorro pela escovinha e fui para minha terceira reunião.E agora, como dormir? Não tem jeito. Tinha que registrar a emoção da estória da Filomena lida por uma menininha de uniforme. E eu que procurava apenas uma escovinha...

                                                                                                          GEDILENE  LUSTOSA

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