Ana Paula Corradini
Imagine chegar a uma terra onde você não conhece
ninguém — e nem entende nadica do que as pessoas estão falando —, ser
separado da sua família e então ser tratado e vendido como um bicho
qualquer, e ter que trabalhar sem descanso desde manhãzinha até o fim do
dia. Um verdadeiro pesadelo, não? Pois assim começava a vida das
crianças escravas no Brasil. Nos 125 anos de abolição da escravatura,
que a gente comemora em 13 de maio, saiba sobre o dia a dia difícil
dessas meninas e desses meninos.
Toda história tem um começo...
... e a dos negros no Brasil é bem triste. Os portugueses começaram a escravizar negros na costa africana no século 15. Eles trocavam essas pessoas por armas, pólvora, fumo e outros produtos com os chefes das tribos, e as levavam em grandes navios negreiros para o Brasil para trabalhar nas fazendas e também fazer serviços domésticos.
Os primeiros navios negreiros chegaram por aqui em 1532, com o navegador Martim Afonso de Sousa. E não tem como se saber muito bem, porque os registros não eram lá essas coisas, mas, de acordo com eles, foram trazidos cerca de cinco milhões de negros para o Brasil entre essa data e 1850. Para alguns historiadores, foram muito mais pessoas. É que os navios vinham tão cheios, e as condições da viagem eram tão terríveis que muitos negros acabavam morrendo. A maioria veio de três grandes grupos: os iorubas, ou nagôs, da região onde hoje fica o Sudão; os muçulmanos de tribos do norte da Nigéria, chamados de malês ou alufás; e os bantos, capturados em Angola e Moçambique, que também eram colônias portuguesas.
Transformados em mercadoria
Quando os negros chegavam ao Brasil, eram vendidos em mercados, como “coisas” mesmo. E olha que absurdo: os portugueses lustravam seus dentes e passavam óleo na pele deles para a “mercadoria” chamar mais atenção. Os homens adultos — quer dizer, naquela época, com 12 anos já era adulto — valiam mais e trabalhavam nas fazendas sem parar, das 6 da matina até as 10 da noite! Não é à toa que, com uns 35 anos, todo mundo já estava velhinho e acabado.
E esse tratamento de gado não parava por aí. Os escravos também eram marcados a ferro em brasa por seus senhores e, se desobedeciam, eram chicoteados amarrados a um tronco chamado pelourinho. Um senhor de engenho de cana, por exemplo, podia importar até 120 escravos por ano, e uma lei dizia que o número de chibatadas por dia não podia passar de 50.
1888: ano da libertação
A escravidão só chegou ao fim em 1888, e você sabia que o Brasil foi o último país do Ocidente a acabar com esse absurdo? A Lei Áurea, que libertou os escravos, foi assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888.
Antes da tão esperada libertação, veio a Lei do Ventre Livre, em 1871, que dizia que todas as crianças escravas nascidas a partir daquela data seriam livres — mas como é que um bebê podia ser livre se sua mãe ainda era escrava? Difícil, não? E mais: a lei dizia que a criança tinha que ficar sob a “proteção” do senhor de sua mãe até os oito anos de idade; então, o senhor poderia libertar a criança (e ganhar uma indenização), ou então manter a criança como escrava até os 21 anos! Tem alguma coisa errada nessa história, né?
Em 1884 apareceu a Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 anos — o problema é que a maioria não chegava a essa idade para contar história, ou sentir o gosto da liberdade.
Infância sem diversão
Os caçadores de escravos não capturavam muitas crianças, porque elas eram pequenininhas demais para chegar ao Brasil e já começarem a trabalhar. As que chegavam por aqui eram vendidas por um preço bem barato e acabavam sendo compradas por famílias menos ricas ou por senhores que “criavam” essas crianças para serem vendidas como escravos adultos mais tarde, e ainda ganhar uma grana com isso.
Entre as que nasciam nas senzalas já no Brasil, poucas conseguiam sobreviver, porque ninguém estava nem aí para a saúde dos escravos — e a mãe tinha que voltar para o trabalho no máximo três dias depois!
As crianças menorzinhas acompanhavam as mães no serviço na lavoura e também viravam meio que “bichinhos de estimação” das senhoras da casa — olha que absurdo! —, que davam pedacinhos de comida ou um carinho para elas, como se fosse o cachorro ou gatinho de estimação que você tem em casa.
Toda história tem um começo...
... e a dos negros no Brasil é bem triste. Os portugueses começaram a escravizar negros na costa africana no século 15. Eles trocavam essas pessoas por armas, pólvora, fumo e outros produtos com os chefes das tribos, e as levavam em grandes navios negreiros para o Brasil para trabalhar nas fazendas e também fazer serviços domésticos.
Os primeiros navios negreiros chegaram por aqui em 1532, com o navegador Martim Afonso de Sousa. E não tem como se saber muito bem, porque os registros não eram lá essas coisas, mas, de acordo com eles, foram trazidos cerca de cinco milhões de negros para o Brasil entre essa data e 1850. Para alguns historiadores, foram muito mais pessoas. É que os navios vinham tão cheios, e as condições da viagem eram tão terríveis que muitos negros acabavam morrendo. A maioria veio de três grandes grupos: os iorubas, ou nagôs, da região onde hoje fica o Sudão; os muçulmanos de tribos do norte da Nigéria, chamados de malês ou alufás; e os bantos, capturados em Angola e Moçambique, que também eram colônias portuguesas.
Transformados em mercadoria
Quando os negros chegavam ao Brasil, eram vendidos em mercados, como “coisas” mesmo. E olha que absurdo: os portugueses lustravam seus dentes e passavam óleo na pele deles para a “mercadoria” chamar mais atenção. Os homens adultos — quer dizer, naquela época, com 12 anos já era adulto — valiam mais e trabalhavam nas fazendas sem parar, das 6 da matina até as 10 da noite! Não é à toa que, com uns 35 anos, todo mundo já estava velhinho e acabado.
E esse tratamento de gado não parava por aí. Os escravos também eram marcados a ferro em brasa por seus senhores e, se desobedeciam, eram chicoteados amarrados a um tronco chamado pelourinho. Um senhor de engenho de cana, por exemplo, podia importar até 120 escravos por ano, e uma lei dizia que o número de chibatadas por dia não podia passar de 50.
1888: ano da libertação
A escravidão só chegou ao fim em 1888, e você sabia que o Brasil foi o último país do Ocidente a acabar com esse absurdo? A Lei Áurea, que libertou os escravos, foi assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888.
Antes da tão esperada libertação, veio a Lei do Ventre Livre, em 1871, que dizia que todas as crianças escravas nascidas a partir daquela data seriam livres — mas como é que um bebê podia ser livre se sua mãe ainda era escrava? Difícil, não? E mais: a lei dizia que a criança tinha que ficar sob a “proteção” do senhor de sua mãe até os oito anos de idade; então, o senhor poderia libertar a criança (e ganhar uma indenização), ou então manter a criança como escrava até os 21 anos! Tem alguma coisa errada nessa história, né?
Em 1884 apareceu a Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 anos — o problema é que a maioria não chegava a essa idade para contar história, ou sentir o gosto da liberdade.
Infância sem diversão
Os caçadores de escravos não capturavam muitas crianças, porque elas eram pequenininhas demais para chegar ao Brasil e já começarem a trabalhar. As que chegavam por aqui eram vendidas por um preço bem barato e acabavam sendo compradas por famílias menos ricas ou por senhores que “criavam” essas crianças para serem vendidas como escravos adultos mais tarde, e ainda ganhar uma grana com isso.
Entre as que nasciam nas senzalas já no Brasil, poucas conseguiam sobreviver, porque ninguém estava nem aí para a saúde dos escravos — e a mãe tinha que voltar para o trabalho no máximo três dias depois!
As crianças menorzinhas acompanhavam as mães no serviço na lavoura e também viravam meio que “bichinhos de estimação” das senhoras da casa — olha que absurdo! —, que davam pedacinhos de comida ou um carinho para elas, como se fosse o cachorro ou gatinho de estimação que você tem em casa.
Quando
chegava aos 7 ou 8 anos, a criançada era colocada para trabalhar mais a
sério, e fazia de tudo. Os meninos carregavam guarda-chuvas, trouxas de
roupas, velas, faziam compras e levavam recados, e as meninas carregavam
os objetos e apetrechos das senhoras, cuidavam de crianças e faziam o
serviço de casa. A garotada em geral também buscava o jornal, preparava
os cavalos, lavava os pés das pessoas da casa e das visitas, escovava as
roupas, engraxava os sapatos, servia a mesa, espantava os mosquitos,
balançava a rede, buscava água no poço... UFA! Trabalho era o que não
faltava para eles — até ficarem adultos e serem obrigados a trabalhar
ainda mais.
Leia
A Coleção Você sabia? traz os personagens do Sítio do Picapau Amarelo numa aventura inédita em quadrinhos, narrando fatos do período da escravidão e da Proclamação da República.
Você sabia? Abolição da escravatura e Proclamação da República no Brasil
Editora Globo; 96 páginas; R$ 24
Sem choro nem vela
Apesar de pequenininhas e fracas, as crianças recebiam os mesmos castigos dos adultos, ou seja: eram obrigadas a aguentar chibatadas e até usar correntes e máscaras de ferro se faziam alguma coisa “errada”. O pior é que elas também não tinham nem o direito de chorar em público, e eram obrigadas a esconder as lágrimas.
Você sabia...
... que os filhos dos senhores brancos podiam ter seus próprios escravos? Às vezes, as crianças escravas dos “sinhozinhos” eram ainda mais novas que os outros molequinhos que eram obrigados a servir.
Nada de escola
Desde o começo da colonização do Brasil, as crianças indígenas podiam ir à escola dos padres jesuítas, mas as crianças negras eram barradas. Além de acharem que elas fossem transmitir doenças contagiosas para os brancos, pensavam que não tinham capacidade nenhuma de aprender. Anúnc
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